domingo, 2 de maio de 2010

E o terremoto, hein?!

Lembra do tempo em que se entrava no elevador e, sem assunto, alguma pessoa – geralmente um tiozinho que você nunca viu na vida - olhando para os números dos andares pronunciava em voz alta: “Acho que vai chover, hein..?!”
Sempre que me deparo com esse tipo de abordagem “quebra-gelo” totalmente dispensável sou invariavelmente acometido pelo mesmo pensamento:

“É mesmo...? Tipo... FODA-SE.”

Obviamente eu não falo isso, até porque eu me esforço para conter minha bipolaridade combinada com a mania de perseguição, principalmente quando alguém aciona o gatilho da pergunta idiota. Mas não consigo evitar a tremedeira no canto do olho direito.

Respiro fundo e encerro o assunto com um singelo “Pois é...”
Só que agora o tiozinho do elevador tem muito mais assunto pra puxar.
Porque não tem mais chovido. Toda vez que o tempo fecha eu penso que está chegando a hora de investir em um jet-ski ou um veículo anfíbio. Anota aí: O jet-ski de hoje é a Honda CG de amanhã. Um mano no jet ainda vai arrancar o retrovisor do teu Hovercraft zerinho. Além disso tem ocorrido chuvas dignas do infame “Querida, encolhi as crianças.”

E todos estão assustados. Parece que agora as pessoas perceberam que o planeta tem vida própria. Claro que quem mora em área de risco já sabia disso há muito tempo. O problema é que agora quase todas as áreas são de risco. No caso do Rio, é como se o risco sem chuva já não fosse o bastante.
Na verdade o rio daria um divertidíssimo jogo de Nitendo Wii. Desvia da bala perdidaaa!!!! Agora entra no carro e pisa no acelerador pra fugir da falsa blitz!! Uhuuuu!!! Agora sai do carro e vai à praia. CORREEEEE, MALUCOOO!! Arrastãoooo!! Uhuuu!!!!
AAAAhhhnnnnn... você tropeçou, caiu de boca na língua negra, pegou hepatite ABCDEFG e morreu... Tente outra vez!

Nintendos a parte, eu tive a sorte de crescer junto ao mar numa praia conhecida pela beleza, ondas grandes e afogamentos. Itacoatiara fica em Niterói e, segundo alguns, quer dizer “pedra que come gente”. Não é bem a pedra que come. Normalmente é o mar e ele pega os desavisados que ficam hipnotizados por sua potência e o observam perto demais de seu alcance. Eu lembro de um carnaval com umas 10 mortes por afogamento numa praia de 800 metros de extensão. E perdi as contas de quantas pessoas ajudei a sair do mar por lá.
Crescer num ambiente assim me fez criar um respeito pela natureza que faz parte da minha essência. Eu sei do que o mar é capaz. Eu já vi ele não se importar com pessoas, plantas, quiosques, pranchas, cimento e asfalto... E de fato, a natureza não se importa.
A experiência no mar é uma lição de humildade diante da natureza que poucas pessoas têm. Mas dificilmente alguém que já passou sufoco no mar pelo menos uma vez na vida não respeita a natureza. É um aprendizado para o resto da vida.

Tanto o mar quanto as chuvas tem suas razões de ser. Porém ultimamente as coisas andam mais agressivas.

E agora que as pessoas estão achando que o planeta está de mal com elas vamos aos números:

Segundo cientistas onanistas, a terra tem em torno de 4.5 bilhões de anos.

Bi-lhões. Os dinossauros reinaram por cerca de 150 Milhões. Mi-lhões. Há 65 milhões de anos, um pedregulho intergaláctico acabou com tudo que era vivo com mais de 15 quilos e forçou todas as espécies sobreviventes a originarem os seres que conhecemos hoje.

Nota mental: Gordinhos, temei!

Cerca de 90% das espécies que já viveram sobre a terra estão extintas. Hoje existem estimados 2 milhões de tipos de seres vivos e, segundo a International Union for the Conservation of Nature, cerca 2 espécies de planta e 3 espécies de animais são extintas POR DIA.

Fica obvio que a terra tem seu próprio plano para os bichinhos (as) e que muito antes do homem ela já decidia quem caía para segunda divisão e quem ficava na repescagem evolutiva.

Nesses 4.5 bilhões de anos o Homo Sapiens (nem tão sapiens assim e cada vez mais homo) só dá pinta por aqui há cerca de 150 mil anos.

O que faz de nós, pela lógica, apenas um rascunho de projeto de ser vivo. Perto das tartarugas marinhas, há 150 Milhões de anos na terra, a gente não entende P.N. (porra nenhuma) de sobrevivência.

Nesse bilhões de anos a terra já foi uma bola de fogo atoladinha no universo, um balão de água espacial, uma esfera de gelo cósmica, já teve espinhas na cara expelindo lava... enfim. Há milhões de ano a lua era 10x mais próxima da terra e as marés variavam a uma velocidade de até 800km/h, ligeiramente mais velozes do que os 20km/h atuais.

Já foi muito mais difícil viver aqui. Perto de tanta hostilidade o ser humano ta remando na calmaria.

Só que ao invés de dar graças a Deus, Chuck Norris ou ao Marcelo Dourado, a gente tá acelerando o processo de fim da calmaria. E agora pelo visto, numa analogia surfística, começou a entrar a série.
Não temos motivos de pânico. Absolutamente. Nada vai acontecer diferente do que aconteceria normalmente. Só vai acontecer mais rápido.
Em 200 anos de revolução industrial, em termos ecológicos o homem praticamente só fez cagada. Poluiu, devastou, acimentou, pescou, plantou e caçou à exaustão. Reproduziu vaquinhas flatulentas ao ponto de ter mais vaca do que gente sobre a terra.

E elas peidam metano que é bem pior que o Co2 dos sedentos possantes utilitários esportivos que fazem 0,4km por litro soltam pelo escapamento.

Resumindo:

Vai dar merda.

Agora...merda pra quem? Pro planeta? Pras vaquinhas? Se a terra pudesse falar alguma em sua defesa, ela olharia para os ambientalistas que gritam aos quatro ventos “Salvem o planeta!” e falaria com um desdenho digno do Clodovil: “Salvem-se vocês...tolinhos.”

De fato. Um ser de 200 mil anos tentar salvar outro de 4.5 Bilhões?? Não faz o menor sentido. Nos não vamos salvar a terra, nem muito menos destruí-la. Nem se alguém por engano levar o filho para o trabalho e o moleque apertar o botão vermelho da sala oval.

Pode até acabar com tudo por uns milhõezinhos de anos. Mas a terra é um sistema auto-regulado. Ela vai passar por uma nova fase.

Quem sabe as próximas espécies cresçam todas com a cara do Neymar e a voz da Sabrina Sato num corpo de barata gigante. Tanto faz.
Se o pivete apertar o botão vermelho, se resolvermos pitar o Alasca de rosa pink, se tirarmos todo o petróleo do fundo da terra e jogarmos sobre os mares, se todo mundo se vestisse igual ao Faustão. Não importa.

Quem vai pagar não é a terra. Somos nós mesmos e as outras espécies incapazes de criar raio laser e antibiótico para acabar com esse parasita “pensante” que na maioria das vezes só serve pra atrapalhar.
Tenho certeza que o slogan “Salvem o planeta” está totalmente equivocado.
Provavelmente ele foi feito por algum redator que não conhece seu público-alvo, no caso, a humanidade. Com certeza surtiria mais efeito se fosse “Salve-se do Planeta.”
O apelo individual e a evidência de catástrofe para si próprio ao invés de algo tão genérico e coletivo quanto o planeta, talvez forçaria algumas pessoas a repensarem suas atitudes.

Sinceramente, num mundo capitalista, movido a petróleo e dinheiro virtual nas bolsas de valores eu não vejo grandes chances para nossa pretensiosa espécie em longo prazo. A gente já está suficientemente exposto à natureza sem nossa intromissão.

Tanta coisa que naturalmente já pode dar errado e ainda temos doenças, guerras e carros para nos dizimar.

A China emergindo como superpotência mundial também não ajuda muito no otimismo. Um país que cresce a 10% ao ano, sem freio, sem leis trabalhistas, direitos humanos, consciência ambiental e com frustrações urológicas...não pode dar muito certo.

Por mais que o homem insista em cavar um buraco para tapar outro ao longo de sua relação com o planeta, ele so fará mal a si mesmo. Por mais que o futuro não pareça um mar de rosas, isso não nos impede de fazer a nossa parte.
Todos já sabemos como contribuir. Cada vez mais se fala em sustentabilidade e de certa forma os governos já estão falando – mais do que fazendo – sobre maneiras de amenizar nossa ocupação sobre essa maravilhosa esfera cheia de vida e cores.

Vai dar certo? O Tempo dirá.

Certo é que terra vai continuar aqui. Com relação a isso, as pessoas podem ficar tranqüilas. De um jeito ou de outro ELA vai ficar.

O tiozinho do elevador, provavelmente não.

O que num segundo pensamento não seria de todo mal...

It’s Evolution, baby!

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