sexta-feira, 6 de julho de 2012

Da rave ao camarote. Só faltam as cabines!


Muita água passou sob a ponte que liga as eras das raves clandestinas sobre o barro até o título de segunda melhor balada do mundo, ostentado pelo Grupo Green Valley¹ em 2012.
O tempo foi relativamente curto. Porém o crescimento, exponencial.

 Segundo a revista Forbes² em matéria recentemente publicada, o mercado de música eletrônica no Brasil hoje atinge os zeros dos bilhões.
São milhares de reais gastos a cada evento, com atrações e festas suntuosas, que geram centenas de empregos e outros milhares (por vezes, milhões) de reais em lucros.
Esta realidade se confronta com outras situações e dá origem a alguns paradoxos:

O que falta para termos nomes considerados vanguarda mundial na e-music nacional?
Por que temos um mercado bilionário e poucos nomes nacionais respeitados pela cena fora do Brasil? Como um mercado tão rico quanto ativo não se manifesta através das produções musicais nacionais? Por que não temos um movimento, estilo ou gênero de emusic genuinamente nacionais?

Todos os gêneros, estilos e modalidades de sonoridades sempre foram deglutidos pela musicalidade brasileira para dar origem a estéticas genuinamente nossas.  As mesmas sonoridades africanas que deram os fundamentos ao samba, posteriormente misturaram-se ao funk, rock e até hoje se manifestam conforme surgem novos estilos.

Certa vez perguntaram ao Chico Buarque sobre o que o mesmo havia sentido durante a primeira vez em que ouviu Beatles. Trocando sua resposta em miúdos, Chico disse que nossa bossa nova foi um tapa na cara do “roquezinho”  de 4 notas dos Beatles. Aquele rock simplório  significou para o Chico um retrocesso musical e nossos acordes dissonantes estavam anos-luz a frente do novo rock da época.

Nada pessoal contra os Beatles. Só concordo com o Chico quando ele diz que nós fomos muito mais criativos naquele período.

Porém existe uma razão que equaciona criatividade e tecnologia nos dias de hoje.
É praticamente impossível inventar algum solo novo de guitarra. Ou levada de baixo ou batera que já não tenha sido tentada. Partindo da premissa de que os elementos da música acústica tradicional já foram explorados à exaustão, as novas fronteiras da criatividade estão na incorporação de sonoridades manipuladas através de tecnologia.

E tecnologia no Brasil é coisa cara. Uma das mais caras no mundo, para ser realista.
Não teremos um movimento de talentos na música eletrônica brasileira enquanto um computador com capacidade mínima para produção for mais caro que uma motocicleta.
Na realidade onde a tecnologia é ferramenta básica para gerar criatividade musical a situação econômica conta e muito.

 Por conta dessa elitização da tecnologia o que temos são poucos exemplos de criatividade, nenhum movimento genuíno e baixa qualidade na média geral do que se escuta por aqui.
Pela mesma ponte que liga as raves aos camarotes passaram dois tipos de produtores.
Os primeiros nos anos 80-90, que sem muito conhecimento musical conseguiram produzir sonoridades novas apenas com feeling e tecnologias hoje arcaicas. Hoje o nível de expectativa técnica (mesmo do público leigo, que percebe um kick bom sem nem saber o que é um kick) em relação às produções musicais é maior.

 A vanguarda mundial hoje é ocupada por artistas que dominam tanto teorias musicais, quanto as ferramentas tecnológicas. São os novos músicos-produtores.
Santo Roger Waters! Amém, Kraftwerk!
James Blake, Nico Jaar.  Flying Lotus e todo o movimento cabeçudo do Neo-Hip-Hop de L.A.
São vários artistas dentro deste novo perfil de vanguarda. Nenhum brasileiro. Pelo menos por enquanto.

E agora?
Nos contentamos a ver somente o Gui Boratto ou o Marky representando o Brasil nos maiores festivais?
Ficamos satisfeitos quando vemos o Psilosamples³ tocando em alguma festinha por aqui?
Quando teremos um brasileiro no selo Warp 4? Ou quando teremos um selo brasileiro com a proposta de um Warp, com foco na criatividade? Mais além, quando teremos um mercado para absorver cultura musical de qualidade?
Quantos “sonares“ cabem na sua cidade? E quantos artistas brasileiros fariam parte do lineup sem comprometer a proposta do evento?

Ao meu ver essas respostas tocam em assuntos que são a base da construção de qualquer país desenvolvido. Aumento do nível cultural e melhor distribuição de renda.
Enquanto isso vamos continuar recebendo spams de produtores mequetrefes tentando emplacar uma versão mal feita de um hit do Guetta.

Uma coisa para mim é certa.
Um dia talvez façamos e-hits como Jones ou Guetta.
Mas nenhum dos dois jamais fará samba como a gente.
Fontes/Links

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Nas terras de chiquita, brita simplesmente não vira pepita.


São Paulo, 14 de maio de 2012. As conversas, as notícias, o momento. Os assuntos, os motivos, os sonhos. Os planos. Nossos índios estão deslumbrados com o mais novo modelo de espelhinho multifuncional pago a preço de diamante, parcelado além do alcance da vista. Pouco importa se o homem branco do hemisfério norte paga um terço do valor. Mesmo quando o espelhinho é fabricado por uma criança mal nutrida na Indonésia.

O momento de crescimento econômico fenomenal se manifesta em todas as camadas da sociedade e através de vários aspectos do convívio entre as pessoas. A preocupação latina com o parecer para o outro inflama-se proporcionalmente ao tom e tempo do conjunto.
E falta assunto. Pelo menos pra quem quer falar da vida.

Enquanto todo mundo espera a copa eu espero um dia conseguir me alienar de vez. Simplesmente evoluir ao ponto de abrir o jornal e não me importar com cachoeiras de escândalos protagonizados por garotinhos maus e seus assessores menos importantes. Quando eu for sábio ficarei impassível diante de tragédias e inerte frente ao descaso.

 Mas até lá...
Nas entrelinhas do que se diz nos jornais eu vejo um roteiro de filme. É uma versão dublada do velho sonho americano do pós-guerra. Self-maid men, contos de vitória e luxo. O triunfo da grana, através ou em busca dela. Sob uma trilha tropical e a partir da matriz gerencial caótica de uma ex-colônia de exploração, o velho sonho aqui ganha outras tramas. Porém, diferente da versão original em american english, a vitória não é do mérito. É da esperteza.

Vou utilizar um exemplo emblemático da dita “nova” era brasileira: Eike Batista.
Nosso número um, o homem de 30bilhões e ídolo por excelência da classe política, da mídia e dos mais diversos segmentos de mercado ou poder que aspiram pela oportunidade de acariciar um singelo pêlo entre os prováveis tantos de seu saco escrotal. Segundo sua auto-biografia,venceu por conta própria. Foi desbravar ouro no coração do Brasil e venceu na vida.

Tal qual o cowboy, vestiu-se do conto e foi cantar sua vitória. Passou dificuldades, mas perseverou e prosperou. E todos o aplaudem. Chegam até a seguir  o Thor no twitter. Mesmo depois de ele atropelar um pobre coitado.

Foco no Eike.
O que poucos sabem, mas é fácil de achar e tá até no Wikipédia, é que o papai do Eike foi presidente  da Vale do Rio Doce, quando o Brasil “precisou” por conta de questões “estratégicas” “vender” minério de ferro pro Japão pós-guerra à preço de banana. Talvez eu devesse colocar o texto inteiro entre aspas. Com ou sem aspas, o vovô do Thor estava  à frente de toda esta operação. Foi condecorado e tudo. Até ministro na era Collor ele foi...
E assim nasceu nosso bilionário.

Vou simplificar: Nas terras de chiquita, brita simplesmente não vira pepita.  

Por aqui, no meio da zona, entre boladas e balas perdidas, preso nas ferragens do nosso planejamento de trânsito ou em uma falsa blitz eleitoral as regras são diferentes de lá. O velho oeste aqui tem samba, volta e meia abre um clarão na muvuca e um minuto depois do rabecão sair, tudo volta ao normal. Caos e cada um por si.
Eu estralo, mas não talho. Pelo menos por enquanto...


São Paulo, 14 de maio de 2012. Mas bem que poderia ser qualquer outra capital.

domingo, 2 de maio de 2010

E o terremoto, hein?!

Lembra do tempo em que se entrava no elevador e, sem assunto, alguma pessoa – geralmente um tiozinho que você nunca viu na vida - olhando para os números dos andares pronunciava em voz alta: “Acho que vai chover, hein..?!”
Sempre que me deparo com esse tipo de abordagem “quebra-gelo” totalmente dispensável sou invariavelmente acometido pelo mesmo pensamento:

“É mesmo...? Tipo... FODA-SE.”

Obviamente eu não falo isso, até porque eu me esforço para conter minha bipolaridade combinada com a mania de perseguição, principalmente quando alguém aciona o gatilho da pergunta idiota. Mas não consigo evitar a tremedeira no canto do olho direito.

Respiro fundo e encerro o assunto com um singelo “Pois é...”
Só que agora o tiozinho do elevador tem muito mais assunto pra puxar.
Porque não tem mais chovido. Toda vez que o tempo fecha eu penso que está chegando a hora de investir em um jet-ski ou um veículo anfíbio. Anota aí: O jet-ski de hoje é a Honda CG de amanhã. Um mano no jet ainda vai arrancar o retrovisor do teu Hovercraft zerinho. Além disso tem ocorrido chuvas dignas do infame “Querida, encolhi as crianças.”

E todos estão assustados. Parece que agora as pessoas perceberam que o planeta tem vida própria. Claro que quem mora em área de risco já sabia disso há muito tempo. O problema é que agora quase todas as áreas são de risco. No caso do Rio, é como se o risco sem chuva já não fosse o bastante.
Na verdade o rio daria um divertidíssimo jogo de Nitendo Wii. Desvia da bala perdidaaa!!!! Agora entra no carro e pisa no acelerador pra fugir da falsa blitz!! Uhuuuu!!! Agora sai do carro e vai à praia. CORREEEEE, MALUCOOO!! Arrastãoooo!! Uhuuu!!!!
AAAAhhhnnnnn... você tropeçou, caiu de boca na língua negra, pegou hepatite ABCDEFG e morreu... Tente outra vez!

Nintendos a parte, eu tive a sorte de crescer junto ao mar numa praia conhecida pela beleza, ondas grandes e afogamentos. Itacoatiara fica em Niterói e, segundo alguns, quer dizer “pedra que come gente”. Não é bem a pedra que come. Normalmente é o mar e ele pega os desavisados que ficam hipnotizados por sua potência e o observam perto demais de seu alcance. Eu lembro de um carnaval com umas 10 mortes por afogamento numa praia de 800 metros de extensão. E perdi as contas de quantas pessoas ajudei a sair do mar por lá.
Crescer num ambiente assim me fez criar um respeito pela natureza que faz parte da minha essência. Eu sei do que o mar é capaz. Eu já vi ele não se importar com pessoas, plantas, quiosques, pranchas, cimento e asfalto... E de fato, a natureza não se importa.
A experiência no mar é uma lição de humildade diante da natureza que poucas pessoas têm. Mas dificilmente alguém que já passou sufoco no mar pelo menos uma vez na vida não respeita a natureza. É um aprendizado para o resto da vida.

Tanto o mar quanto as chuvas tem suas razões de ser. Porém ultimamente as coisas andam mais agressivas.

E agora que as pessoas estão achando que o planeta está de mal com elas vamos aos números:

Segundo cientistas onanistas, a terra tem em torno de 4.5 bilhões de anos.

Bi-lhões. Os dinossauros reinaram por cerca de 150 Milhões. Mi-lhões. Há 65 milhões de anos, um pedregulho intergaláctico acabou com tudo que era vivo com mais de 15 quilos e forçou todas as espécies sobreviventes a originarem os seres que conhecemos hoje.

Nota mental: Gordinhos, temei!

Cerca de 90% das espécies que já viveram sobre a terra estão extintas. Hoje existem estimados 2 milhões de tipos de seres vivos e, segundo a International Union for the Conservation of Nature, cerca 2 espécies de planta e 3 espécies de animais são extintas POR DIA.

Fica obvio que a terra tem seu próprio plano para os bichinhos (as) e que muito antes do homem ela já decidia quem caía para segunda divisão e quem ficava na repescagem evolutiva.

Nesses 4.5 bilhões de anos o Homo Sapiens (nem tão sapiens assim e cada vez mais homo) só dá pinta por aqui há cerca de 150 mil anos.

O que faz de nós, pela lógica, apenas um rascunho de projeto de ser vivo. Perto das tartarugas marinhas, há 150 Milhões de anos na terra, a gente não entende P.N. (porra nenhuma) de sobrevivência.

Nesse bilhões de anos a terra já foi uma bola de fogo atoladinha no universo, um balão de água espacial, uma esfera de gelo cósmica, já teve espinhas na cara expelindo lava... enfim. Há milhões de ano a lua era 10x mais próxima da terra e as marés variavam a uma velocidade de até 800km/h, ligeiramente mais velozes do que os 20km/h atuais.

Já foi muito mais difícil viver aqui. Perto de tanta hostilidade o ser humano ta remando na calmaria.

Só que ao invés de dar graças a Deus, Chuck Norris ou ao Marcelo Dourado, a gente tá acelerando o processo de fim da calmaria. E agora pelo visto, numa analogia surfística, começou a entrar a série.
Não temos motivos de pânico. Absolutamente. Nada vai acontecer diferente do que aconteceria normalmente. Só vai acontecer mais rápido.
Em 200 anos de revolução industrial, em termos ecológicos o homem praticamente só fez cagada. Poluiu, devastou, acimentou, pescou, plantou e caçou à exaustão. Reproduziu vaquinhas flatulentas ao ponto de ter mais vaca do que gente sobre a terra.

E elas peidam metano que é bem pior que o Co2 dos sedentos possantes utilitários esportivos que fazem 0,4km por litro soltam pelo escapamento.

Resumindo:

Vai dar merda.

Agora...merda pra quem? Pro planeta? Pras vaquinhas? Se a terra pudesse falar alguma em sua defesa, ela olharia para os ambientalistas que gritam aos quatro ventos “Salvem o planeta!” e falaria com um desdenho digno do Clodovil: “Salvem-se vocês...tolinhos.”

De fato. Um ser de 200 mil anos tentar salvar outro de 4.5 Bilhões?? Não faz o menor sentido. Nos não vamos salvar a terra, nem muito menos destruí-la. Nem se alguém por engano levar o filho para o trabalho e o moleque apertar o botão vermelho da sala oval.

Pode até acabar com tudo por uns milhõezinhos de anos. Mas a terra é um sistema auto-regulado. Ela vai passar por uma nova fase.

Quem sabe as próximas espécies cresçam todas com a cara do Neymar e a voz da Sabrina Sato num corpo de barata gigante. Tanto faz.
Se o pivete apertar o botão vermelho, se resolvermos pitar o Alasca de rosa pink, se tirarmos todo o petróleo do fundo da terra e jogarmos sobre os mares, se todo mundo se vestisse igual ao Faustão. Não importa.

Quem vai pagar não é a terra. Somos nós mesmos e as outras espécies incapazes de criar raio laser e antibiótico para acabar com esse parasita “pensante” que na maioria das vezes só serve pra atrapalhar.
Tenho certeza que o slogan “Salvem o planeta” está totalmente equivocado.
Provavelmente ele foi feito por algum redator que não conhece seu público-alvo, no caso, a humanidade. Com certeza surtiria mais efeito se fosse “Salve-se do Planeta.”
O apelo individual e a evidência de catástrofe para si próprio ao invés de algo tão genérico e coletivo quanto o planeta, talvez forçaria algumas pessoas a repensarem suas atitudes.

Sinceramente, num mundo capitalista, movido a petróleo e dinheiro virtual nas bolsas de valores eu não vejo grandes chances para nossa pretensiosa espécie em longo prazo. A gente já está suficientemente exposto à natureza sem nossa intromissão.

Tanta coisa que naturalmente já pode dar errado e ainda temos doenças, guerras e carros para nos dizimar.

A China emergindo como superpotência mundial também não ajuda muito no otimismo. Um país que cresce a 10% ao ano, sem freio, sem leis trabalhistas, direitos humanos, consciência ambiental e com frustrações urológicas...não pode dar muito certo.

Por mais que o homem insista em cavar um buraco para tapar outro ao longo de sua relação com o planeta, ele so fará mal a si mesmo. Por mais que o futuro não pareça um mar de rosas, isso não nos impede de fazer a nossa parte.
Todos já sabemos como contribuir. Cada vez mais se fala em sustentabilidade e de certa forma os governos já estão falando – mais do que fazendo – sobre maneiras de amenizar nossa ocupação sobre essa maravilhosa esfera cheia de vida e cores.

Vai dar certo? O Tempo dirá.

Certo é que terra vai continuar aqui. Com relação a isso, as pessoas podem ficar tranqüilas. De um jeito ou de outro ELA vai ficar.

O tiozinho do elevador, provavelmente não.

O que num segundo pensamento não seria de todo mal...

It’s Evolution, baby!

domingo, 25 de abril de 2010

Sobre Jardins e Borboletas

Sobre Jardins e borboletas.

Outro dia li um texto com uma analogia metafórica muito bonita. Dizia pra cuidar do “jardim” - “coração” ou algo parecido - para que as “borboletas” - amores e/ou amantes - se aproximem.

Textinho típico de e-mail. Eles são uma espécie de auto-ajuda-motivacional-uma-luz-no-fim-do-túnel-jesus-te-ama!

E normalmente são enviados por nossas amigas, digamos, mais meigas.

São até bonitos, bem escritos... mas esse tipo de retórica é um pote de sorvete te esperando no freezer depois de um dia quente e horrível andando no centro da cidade de calça jeans e sapato apertado. Vai te fazer esquecer do dia e se odiar no espelho depois.

Eu vejo um erro GIGANTE na necessidade do cuidado com o dito jardim.

E a condição das borboletas é algo perigoso.

Acredito no cuidado com o jardim.Mas e se as borboletas não vierem? Vale lembrar que ainda existe o perigo dos ventos, efeito estufa, aquecimento global, canários, pombos, morcegos, teias de aranha, crianças, maníacos, cientistas... e as borboletas são bichinhos frágeis.

O jardim também não tem como função exclusiva a captura de borboletas. A não ser que você tenha estudado Borboletologia , ele serve pra receber os amigos, dar festas, sentar pra ler bons livros,ouvir musica ou simplesmente olhar o céu...

Metáforas à parte, a gente não pode mais ficar usando de ilusão ou fantasia pra encarar a realidade. É muito mais doloroso, porque a verdade... Bem, a verdade sempre aparece.

E quando ao invés de borboleta aparece uma mariposa bem das feias???

A gente cobra de quem? Do Mário Quintana??? "Mas meu jardim tava tão lindo..." Diz a meiga com sua voz triste e estridente.

Fato é que a gente vive numa sociedade com valores deturpados. Uma peça de roupa cara custa o 10 vezes o valor de um bom livro e o pano acaba falando mais

sobre o portador do que a cultura que os poucos leitores de bons livros absorvem diz a respeito deles (isso pela interpretação da maioria).
Infelizmente a gente não sai vestido com uma blusa modelo Gabriel Garcia Márquez e uma calça Umberto Eco e um par de tênis Bauman... Aposto q a maioria das pessoas que lerem isso nem vão saber quem são estas pessoas.

Google it, please!

Nós crescemos querendo as mesmas coisas que nossos avós e nos esquecemos que somos a terceira geração da realidade do divórcio. Nossos avós foram as primeiras pessoas a assumir um divórcio legalmente perante a sociedade. Meu pai foi o primeiro filho de divorciado na sala do colégio dele e um dos primeiros no colégio inteiro, na década de 60. Sofria preconceito. Os coleguinhas não iam falar com o “filho de pais divorciados”. Mas nossos pais aprenderam o valor do “pra sempre”.
Aborrecimento pra sempre, neeeem fudendo!!
E nossos pais difundiram o divórcio a uma estatística de praticamente de 1 pra 1 em relação aos casamentos. Hoje em dia quantos pais dos nossos amigos são divorciados? Praticamente a maioria.
Tudo é descartável para a grande maioria das pessoas. Amizades de interesse,namoros de conveniência, casamentos de aparência.

As relações que deveriam ser mais profundas acabaram sofrendo com nosso mundo de consumo e a nossa realidade imediatista e hedonista.

Qual é a maquiagem que se usa pra esconder o passado? Todo mundo já viu ou viveu de perto algum grau de "descartabilidade" em alguma relação.

Meus pais são minha benção e minha maldição.

Depois de quase 30 anos de casados ainda vejo meu pai roubar beijos (ou beliscões indiscretos invariavelmente seguidos de um característico “Páára, Fernando...” ) da minha mãe enquanto eles vêem tv. Trocar mensagens de celular enquanto viajam.

Ter ataques de risos com piadas que só eles entendem. Aprendi de perto valores como a importância da família, sinceridade, fidelidade, como as coisas dependem dessa

harmonia pra coexistir.

Eu cresci vendo isso. E cresci com um sonho de construir a mesma felicidade pra mim.

E já apanhei muito por causa disso. Porque fui percebendo que o mundo fora da minha casa e da casa de algumas pessoas com a mesma sorte que a minha, é muito diferente.

As pessoas não querem ser sinceras. Elas querem parecer sinceras. Ser sincero é ter que falar sobre coisas inconvenientes. Papo chato, discussão, polêmicas... essas coisas não tem lugar na realidade do clique. Clique, mudou a página. Clique, começou outro filme. Clique, não preciso mais me preocupar com meu desespero a respeito da minha condição de ser humano com interesses e interpretações deslocados na contemporaneidade. Tomei um valium. CliiiiiiiiiiiiiiquÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊE....

Sinceridade dói. Sinceridade expõe ao ridículo. Um amigo de verdade não te apóia em tudo! Ele mete o dedo na tua ferida e diz “ta vendo... é aqui que tá precisando de curativo”

E várias vezes eu já me peguei desacreditando nas coisas que eu mais queria, vendo o meu jardim impecável sem borboletas (ou sem as que eu queria que estivessem ali...)

Depois de apanhar muito, quebrar muito a cara e passar horas e horas olhando meu jardim de metáforas borboléticas, tentando achar respostas, há pouco tempo cheguei a uma conclusão.

A gente não tem q esperar felicidade em ninguém.

A gente não tem que condicionar nossa felicidade a outra pessoa.

A gente não tem q depender de namoro, casamento ou qualquer

tipo de relacionamento a dois pra ser feliz.

Não nessa realidade que vivemos.

O que eu busco pra mim agora como felicidade são as coisas que realmente são verdadeiras pra mim. Meus amigos. Meus esportes. Minha família.

A felicidade de verdade está em coisas tão simples que a gente chega ao ponto ridículo de não ver.

Uma tarde com os amigos, ficar naturalmente chapado depois de correr uma hora ou entrar em contato com uma idéia diferente. Ou a sensação de plenitude depois de tirar um tubo numa onda grande em um dia de sol e água clara... Isso me faz tão feliz ao ponto de querer explodir e me separar do corpo até a menor molécula e virar ar... Parte do oceano.

Isso é o meu motivo de tudo. Obvio que cada um tem seus motivos. Se não tem, ainda não encontrou ou por falta de busca ou por visão míope.

Aí tá a felicidade. Em descobrir o que te faz realmente feliz.

Reparem, amigas meigas lindas do meu coração... "O QUE" me faz feliz, ao invés de "QUEM".

PORQUE QUEM VAI FAZER VC FELIZ É VC MESMO!

Mas sem essa neura moderna de que as pessoas são obrigadas a serem felizes o tempo todo! Ninguém deve ficar se cobrando por estar triste quando realmente acontece algo entristecedor... mas esse é outro assunto.

Meu jardim vai estar sempre bem cuidado. E sempre pronto pra receber vocês meus amigos, pra ler bons livros, descansar depois de correr ou ouvir música no último volume lembrando do tubo do dia anterior.

Se a borboleta aparecer, ótimo! Caso não apareça, eu vou ser feliz da mesma forma!

Eu, meu jardim, minhas alegrias, família e amigos.

FELICIDADE PRA TODOS NÓS!!

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Mesmo que

Não posso dizer que foi como quis
Nem que gosto do gosto
Muito menos consigo disfarçar a tristeza
E sentir menos dor pelo osso exposto
Nada faria o tempo voltar
Pra deixar as coisas que eram belas, soltas
Tornarem, cada uma, pro seu devido lugar
O tempo não pára
Nada o faria parar
Queria poder esquecer
Pra não levar comigo, não importa onde fosse
E não teve um dia sem que a lembrança viesse
Pra me fazer morrer mais
Um pouco mais do que já morro, quando o céu escurece
Desculpas não mudam os fatos
E eu não seria capaz de pedi-las
Sei que não fui sensato nos atos
Olho pro alto quando a dor cintila
Silenciosa, anda na ponta da memória
Escorre muda pelo canto do rosto
Cai pelo queixo e no travesseiro, assume seu posto
De enredo pra um monte de historia
Com a moral no final que o amor é um sopro de glória
E ninguém tem controle de nada.
Continuo sozinho, no mar, na remada
Pensando em tanta coisa errada
Tanta encruzilhada
Tanta enrascada
Tanta coisa seria que virou piada
Mas uma coisa é certa
Não importa o quanto goste, desgoste, até desame
Não importa o dano, o erro, o tempo e a perda.
Nem se eu cair quando andar cego na beira
Ainda que você não ame de volta
Eu vou te amar pra sempre
Mesmo que você não queira