segunda-feira, 14 de maio de 2012

Nas terras de chiquita, brita simplesmente não vira pepita.


São Paulo, 14 de maio de 2012. As conversas, as notícias, o momento. Os assuntos, os motivos, os sonhos. Os planos. Nossos índios estão deslumbrados com o mais novo modelo de espelhinho multifuncional pago a preço de diamante, parcelado além do alcance da vista. Pouco importa se o homem branco do hemisfério norte paga um terço do valor. Mesmo quando o espelhinho é fabricado por uma criança mal nutrida na Indonésia.

O momento de crescimento econômico fenomenal se manifesta em todas as camadas da sociedade e através de vários aspectos do convívio entre as pessoas. A preocupação latina com o parecer para o outro inflama-se proporcionalmente ao tom e tempo do conjunto.
E falta assunto. Pelo menos pra quem quer falar da vida.

Enquanto todo mundo espera a copa eu espero um dia conseguir me alienar de vez. Simplesmente evoluir ao ponto de abrir o jornal e não me importar com cachoeiras de escândalos protagonizados por garotinhos maus e seus assessores menos importantes. Quando eu for sábio ficarei impassível diante de tragédias e inerte frente ao descaso.

 Mas até lá...
Nas entrelinhas do que se diz nos jornais eu vejo um roteiro de filme. É uma versão dublada do velho sonho americano do pós-guerra. Self-maid men, contos de vitória e luxo. O triunfo da grana, através ou em busca dela. Sob uma trilha tropical e a partir da matriz gerencial caótica de uma ex-colônia de exploração, o velho sonho aqui ganha outras tramas. Porém, diferente da versão original em american english, a vitória não é do mérito. É da esperteza.

Vou utilizar um exemplo emblemático da dita “nova” era brasileira: Eike Batista.
Nosso número um, o homem de 30bilhões e ídolo por excelência da classe política, da mídia e dos mais diversos segmentos de mercado ou poder que aspiram pela oportunidade de acariciar um singelo pêlo entre os prováveis tantos de seu saco escrotal. Segundo sua auto-biografia,venceu por conta própria. Foi desbravar ouro no coração do Brasil e venceu na vida.

Tal qual o cowboy, vestiu-se do conto e foi cantar sua vitória. Passou dificuldades, mas perseverou e prosperou. E todos o aplaudem. Chegam até a seguir  o Thor no twitter. Mesmo depois de ele atropelar um pobre coitado.

Foco no Eike.
O que poucos sabem, mas é fácil de achar e tá até no Wikipédia, é que o papai do Eike foi presidente  da Vale do Rio Doce, quando o Brasil “precisou” por conta de questões “estratégicas” “vender” minério de ferro pro Japão pós-guerra à preço de banana. Talvez eu devesse colocar o texto inteiro entre aspas. Com ou sem aspas, o vovô do Thor estava  à frente de toda esta operação. Foi condecorado e tudo. Até ministro na era Collor ele foi...
E assim nasceu nosso bilionário.

Vou simplificar: Nas terras de chiquita, brita simplesmente não vira pepita.  

Por aqui, no meio da zona, entre boladas e balas perdidas, preso nas ferragens do nosso planejamento de trânsito ou em uma falsa blitz eleitoral as regras são diferentes de lá. O velho oeste aqui tem samba, volta e meia abre um clarão na muvuca e um minuto depois do rabecão sair, tudo volta ao normal. Caos e cada um por si.
Eu estralo, mas não talho. Pelo menos por enquanto...


São Paulo, 14 de maio de 2012. Mas bem que poderia ser qualquer outra capital.