domingo, 25 de abril de 2010

Sobre Jardins e Borboletas

Sobre Jardins e borboletas.

Outro dia li um texto com uma analogia metafórica muito bonita. Dizia pra cuidar do “jardim” - “coração” ou algo parecido - para que as “borboletas” - amores e/ou amantes - se aproximem.

Textinho típico de e-mail. Eles são uma espécie de auto-ajuda-motivacional-uma-luz-no-fim-do-túnel-jesus-te-ama!

E normalmente são enviados por nossas amigas, digamos, mais meigas.

São até bonitos, bem escritos... mas esse tipo de retórica é um pote de sorvete te esperando no freezer depois de um dia quente e horrível andando no centro da cidade de calça jeans e sapato apertado. Vai te fazer esquecer do dia e se odiar no espelho depois.

Eu vejo um erro GIGANTE na necessidade do cuidado com o dito jardim.

E a condição das borboletas é algo perigoso.

Acredito no cuidado com o jardim.Mas e se as borboletas não vierem? Vale lembrar que ainda existe o perigo dos ventos, efeito estufa, aquecimento global, canários, pombos, morcegos, teias de aranha, crianças, maníacos, cientistas... e as borboletas são bichinhos frágeis.

O jardim também não tem como função exclusiva a captura de borboletas. A não ser que você tenha estudado Borboletologia , ele serve pra receber os amigos, dar festas, sentar pra ler bons livros,ouvir musica ou simplesmente olhar o céu...

Metáforas à parte, a gente não pode mais ficar usando de ilusão ou fantasia pra encarar a realidade. É muito mais doloroso, porque a verdade... Bem, a verdade sempre aparece.

E quando ao invés de borboleta aparece uma mariposa bem das feias???

A gente cobra de quem? Do Mário Quintana??? "Mas meu jardim tava tão lindo..." Diz a meiga com sua voz triste e estridente.

Fato é que a gente vive numa sociedade com valores deturpados. Uma peça de roupa cara custa o 10 vezes o valor de um bom livro e o pano acaba falando mais

sobre o portador do que a cultura que os poucos leitores de bons livros absorvem diz a respeito deles (isso pela interpretação da maioria).
Infelizmente a gente não sai vestido com uma blusa modelo Gabriel Garcia Márquez e uma calça Umberto Eco e um par de tênis Bauman... Aposto q a maioria das pessoas que lerem isso nem vão saber quem são estas pessoas.

Google it, please!

Nós crescemos querendo as mesmas coisas que nossos avós e nos esquecemos que somos a terceira geração da realidade do divórcio. Nossos avós foram as primeiras pessoas a assumir um divórcio legalmente perante a sociedade. Meu pai foi o primeiro filho de divorciado na sala do colégio dele e um dos primeiros no colégio inteiro, na década de 60. Sofria preconceito. Os coleguinhas não iam falar com o “filho de pais divorciados”. Mas nossos pais aprenderam o valor do “pra sempre”.
Aborrecimento pra sempre, neeeem fudendo!!
E nossos pais difundiram o divórcio a uma estatística de praticamente de 1 pra 1 em relação aos casamentos. Hoje em dia quantos pais dos nossos amigos são divorciados? Praticamente a maioria.
Tudo é descartável para a grande maioria das pessoas. Amizades de interesse,namoros de conveniência, casamentos de aparência.

As relações que deveriam ser mais profundas acabaram sofrendo com nosso mundo de consumo e a nossa realidade imediatista e hedonista.

Qual é a maquiagem que se usa pra esconder o passado? Todo mundo já viu ou viveu de perto algum grau de "descartabilidade" em alguma relação.

Meus pais são minha benção e minha maldição.

Depois de quase 30 anos de casados ainda vejo meu pai roubar beijos (ou beliscões indiscretos invariavelmente seguidos de um característico “Páára, Fernando...” ) da minha mãe enquanto eles vêem tv. Trocar mensagens de celular enquanto viajam.

Ter ataques de risos com piadas que só eles entendem. Aprendi de perto valores como a importância da família, sinceridade, fidelidade, como as coisas dependem dessa

harmonia pra coexistir.

Eu cresci vendo isso. E cresci com um sonho de construir a mesma felicidade pra mim.

E já apanhei muito por causa disso. Porque fui percebendo que o mundo fora da minha casa e da casa de algumas pessoas com a mesma sorte que a minha, é muito diferente.

As pessoas não querem ser sinceras. Elas querem parecer sinceras. Ser sincero é ter que falar sobre coisas inconvenientes. Papo chato, discussão, polêmicas... essas coisas não tem lugar na realidade do clique. Clique, mudou a página. Clique, começou outro filme. Clique, não preciso mais me preocupar com meu desespero a respeito da minha condição de ser humano com interesses e interpretações deslocados na contemporaneidade. Tomei um valium. CliiiiiiiiiiiiiiquÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊE....

Sinceridade dói. Sinceridade expõe ao ridículo. Um amigo de verdade não te apóia em tudo! Ele mete o dedo na tua ferida e diz “ta vendo... é aqui que tá precisando de curativo”

E várias vezes eu já me peguei desacreditando nas coisas que eu mais queria, vendo o meu jardim impecável sem borboletas (ou sem as que eu queria que estivessem ali...)

Depois de apanhar muito, quebrar muito a cara e passar horas e horas olhando meu jardim de metáforas borboléticas, tentando achar respostas, há pouco tempo cheguei a uma conclusão.

A gente não tem q esperar felicidade em ninguém.

A gente não tem que condicionar nossa felicidade a outra pessoa.

A gente não tem q depender de namoro, casamento ou qualquer

tipo de relacionamento a dois pra ser feliz.

Não nessa realidade que vivemos.

O que eu busco pra mim agora como felicidade são as coisas que realmente são verdadeiras pra mim. Meus amigos. Meus esportes. Minha família.

A felicidade de verdade está em coisas tão simples que a gente chega ao ponto ridículo de não ver.

Uma tarde com os amigos, ficar naturalmente chapado depois de correr uma hora ou entrar em contato com uma idéia diferente. Ou a sensação de plenitude depois de tirar um tubo numa onda grande em um dia de sol e água clara... Isso me faz tão feliz ao ponto de querer explodir e me separar do corpo até a menor molécula e virar ar... Parte do oceano.

Isso é o meu motivo de tudo. Obvio que cada um tem seus motivos. Se não tem, ainda não encontrou ou por falta de busca ou por visão míope.

Aí tá a felicidade. Em descobrir o que te faz realmente feliz.

Reparem, amigas meigas lindas do meu coração... "O QUE" me faz feliz, ao invés de "QUEM".

PORQUE QUEM VAI FAZER VC FELIZ É VC MESMO!

Mas sem essa neura moderna de que as pessoas são obrigadas a serem felizes o tempo todo! Ninguém deve ficar se cobrando por estar triste quando realmente acontece algo entristecedor... mas esse é outro assunto.

Meu jardim vai estar sempre bem cuidado. E sempre pronto pra receber vocês meus amigos, pra ler bons livros, descansar depois de correr ou ouvir música no último volume lembrando do tubo do dia anterior.

Se a borboleta aparecer, ótimo! Caso não apareça, eu vou ser feliz da mesma forma!

Eu, meu jardim, minhas alegrias, família e amigos.

FELICIDADE PRA TODOS NÓS!!

3 comentários:

  1. Aí Alan, a gente pensa muito parecido! Lê muito parecido. Capaz até de agirmos muito parecido. Aliás, essa semana eu também fiz um blog, entrei no twit e to começando a escrever pro mundo. ehgelo.blogspot.com, qualquer hora vou começar a postar. E vê se me responde quando eu te procuro o mané! Nesse mundo descartável, a acrescentar Nietzche e Lipovetsky, o nosso sangue não precisa correr longe como o dos(as) que nos precedem. Abraços e parabéns pelo bom gosto e pelas boas ideias!

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  2. admito que fiquei com preguiça de ler todo o textículo, mas o foco geral eu peguei!
    ;)
    eu sou uma amiga meiga e não mando esse tipo de email, até porque nem abro hahaha
    mas tudo bem!
    pessoas meigas nem sempre são meigas.
    há!

    uma obs. a cor da letra do teu cabeçalho não dá pra ler.
    beijos me liga!!!!

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  3. fiquei com sentimento de culpa e vou ler em casa.

    vai ser meu deveres.

    :D

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